segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A música também sofreu com a censura, devido à sua capacidade de entrar no inconsciente das pessoas, e por esse motivo vários autores musicais acabaram aprisionados, vários discos foram vetados e recolhidos, algumas canções nem chegavam ao conhecimento dos ouvintes. Música de Taiguara foi vetada sob alegação de subverter a ordem e a disciplina.
Após sublinhar a passagem “Essa criança não morre e não perde a voz”, o censor, em seu parecer, declara:
(Letra da composição censurada, em 7 de abril de 1974, “Nós, essa criança”, Taigara)
“O protesto não deixa às vezes, de ser construtivo, quando feito nos termos legais. Quer-nos parecer, no entanto, ser a letra um alerta, uma ameaça, logo o protesto aqui, torna-se subversivo no que tange a ordem e disciplina. Dessa forma, vetamos a letra.”
Outra canção censurada no Brasil foi a de Chico Buarque, criada pelo entusiasmo do compositor com a Revolução dos Cravos em 1974. Apesar de proibida pela censura brasileira, a canção foi lançada com a letra em Portugal. Quando foi finalmente liberada, em 1978, o autor mudou a letra, colocando no passado as referências à Revolução, afirmando em uma entrevista que entendia que naquele momento, da segunda letra, os caminhos revolucionários haviam sido desvirtuados.
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Título: Tanto Mar (versões 1975 e 1978) Vídeo: Chico Buarque, entrevista
Créditos: Chico Buarque e versões de 1975 e 1979
Letra de Tanto Mar – vetada
Comentário da Censora
Revisão da Censura
Não demorou para a música – enquanto manifestação artístico-cultural de forte teor político– estar entre os principais alvos da censura. Mas nem isso calava a voz dos artistas. Músicas se tornaram hinos e verdadeiros gritos de liberdade aos cidadão oprimidos sem possibilidade de se expressar como desejavam. Através de letras metafóricas e complexas, elas traduziam tudo que sentiam.
1- "Alegria, alegria"
A música “Alegria, alegria” foi lançada em 1967, por Caetano Veloso. Valorizava a ironia, a rebeldia e o anarquismo a partir de fragmentos do dia-a-dia. A letra critica o abuso do poder e da violência, as más condições do contexto educacional e cultural estabelecido pelos militares, aos quais interessava formar brasileiros alienados.
Trecho: O sol se reparte em crimes/Espaçonaves, guerrilhas/Em cardinales bonitas/Eu vou…
2- "Caminhando"
“Caminhando (Pra não dizer que falei das flores)” é uma música de Geraldo Vandré, lançada em 1968. Vandré foi um dos primeiros artistas a ser perseguido e censurado pelo governo militar. A música foi a sensação do Festival de Música Brasileira da TV Record, se transformando em um hino para os cidadãos que lutavam pela abertura política. Através dela, Vandré chamava o público à revolta contra o regime ditatorial e ainda fazia fortes provocações ao exército.
Trecho: Há soldados armados / Amados ou não / Quase todos perdidos / De armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam / Uma antiga lição: De morrer pela pátria / E viver sem razão
3- "Cálice"
A música “Cálice”, lançada por Chico Buarque em 1973, faz alusão a oração de Jesus Cristo dirigida a Deus no Jardim do Getsêmane: “Pai, afasta de mim este cálice”. Para quem lutava pela democracia, o silêncio também era uma forma de morte. Para os ditadores, a morte era uma forma de silêncio. Daí nasceu a ideia de Chico Buarque: explorar a sonoridade e o duplo sentido das palavras “cálice” e “cale-se” para criticar o regime instaurado.
Trecho: De muito gorda a porca já não anda (Cálice!) / De muito usada a faca já não corta / Como é difícil, Pai, abrir a porta (Cálice!) / Essa palavra presa na garganta
4- "O bêbado e o equilibrista"
“O bêbado e o equilibrista” foi composto por Aldir Blanc e João Bosco e gravado por Elis Regina, em 1979. Representava o pedido da população pela anistia ampla, geral e irrestrita, um movimento consolidado no final da década de 70. A letra fala sobre o choro de Marias e Clarisses, em alusão às esposas do operário Manuel Fiel Filho e do jornalista Vladimir Herzog, assassinados sob tortura pelo exército.
Trecho: Que sonha com a volta / Do irmão do Henfil / Com tanta gente que partiu / Num rabo de foguete / Chora! A nossa Pátria Mãe gentil / Choram Marias e Clarisses / No solo do Brasil…
5- "É proibido proibir"
“É proibido proibir” é uma música de Caetano Veloso, lançada em 1968. Esta canção era uma manifestação das grandes mudanças culturais que estavam ocorrendo no mundo na década de 1960. Na apresentação realizada no Teatro da Universidade Católica de São Paulo, a música de Caetano foi recebida com furiosa vaia pelo público que lotava o auditório. Indignado, Caetano fez um longo e inflamado discurso que quase não se podia ouvir, tamanho era o barulho dentro do teatro.
Trecho: Me dê um beijo meu amor / Eles estão nos esperando / Os automóveis ardem em chamas / Derrubar as prateleiras / As estantes, as estátuas / As vidraças, louças / Livros, sim…
6- "Apesar de você"
Depois de Geraldo Vandré, Chico Buarque se tornou o artista mais odiado pelo governo militar, tendo dezenas de músicas censuradas. “Apesar de você” foi lançada em 1970, durante o governo do general Médici. A letra faz uma clara referência a este ditador. Para driblar a censura, ele afirmou que a música contava a história de uma briga de casal, cuja esposa era muito autoritária. A desculpa funcionou e o disco foi gravado, mas os oficiais do exército logo perceberam a real intenção e a canção foi proibida de tocar nas rádios.
Trecho: Quando chegar o momento / Esse meu sofrimento / Vou cobrar com juros. Juro! / Todo esse amor reprimido / Esse grito contido / Esse samba no escur
7- "Que as crianças cantem livres"
“Que as crianças cantem livres” é uma composição de Taiguara, lançada em 1973. No mesmo ano, o cantor se exilou em Londres, tendo sido um dos artistas mais perseguidos durante a ditadura militar. Taiguara teve 68 canções censuradas, durante o período de maior endurecimento do regime, no fim da década de 1960 até meados da década de 1970.
Trecho: E que as crianças cantem livres sobre os muros / E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor / E que o passado abra os presentes pro futuro / Que não dormiu e preparou o amanhecer…
8- "Jorge Maravilha"
“Jorge Maravilha” lançada em 1974, é mais uma música de Chico Buarque, agora sob o pseudônimo de Julinho de Adelaide, criado para driblar a censura. Os versos “você não gosta de mim, mas sua filha gosta” parecia uma relação conflituosa entre sogro, genro e filha. Mas, na verdade, fazia alusão à família do general Geisel. Geisel odiava Chico Buarque. No entanto, a filha do militar manifestava interesse pelo trabalho do compositor.
Nem todas as músicas foram criadas como forma de protesto. Por exemplo, alguns cantores, como Caetano Veloso e Gilberto Gil, compunham músicas com forte teor político e social, mas nem sempre faziam críticas diretas à ditadura. Porém, são citadas por fazerem parte de um momento histórico único em nossa história.
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